Século XIX – as correntes opostas do Romantismo e do Realismo
Romantismo – Misticismo e Emoção
O século XIX é prolixo em correntes artísticas que se diferem muito entre si, estando por vezes assentes em ideais totalmente opostos, como é o caso das correntes descritas neste artigo: o Romantismo e o Realismo.
O estilo neoclássico do século XVIII e XIX (abordado no artigo anterior) vai conviver com o estilo do Romantismo, que se encontra no lado oposto do espectro no que se refere a temas, técnicas e mensagem.
O Romantismo foi um movimento artístico e intelectual que atingiu o seu auge entre 1800 e 1850, caracterizado pela ênfase na emoção e individualismo, bem como na glorificação do Passado e da Natureza.
Os artistas românticos partilhavam assim, para além da idealização do Passado como uma época mais nobre (preferindo o período medieval ao clássico) o fascínio pelo misticismo e a fantasia. São famosas as pinturas com fadas, figuras mitológicas e cenas medievais como temática central.
Muito variada nas suas manifestações, esta corrente sustentava-se filosoficamente em três pilares: o individualismo, o subjetivismo e a intensidade. Opondo-se à ordem e à rigidez intelectual clássica, os artistas românticos davam primazia à imaginação e à expressão individual, alcançando assim o sublime através da arte.
Uma ramificação do Romantismo que usa as flores como elemento fundamental, foi a corrente artística dos pré-rafaelistas. A Irmandade Pré-Rafaelita designa um grupo de pintores ingleses constituído em 1848, que tinham como objetivo fundamental a recuperação da pureza que caracterizava as pinturas medievais, anteriores ao pintor renascentista Rafael e, logo, anteriores à tradição da arte académica. Pretendiam devolver à arte a sua pureza e honestidade anteriores, que consideravam existir na arte medieval do final do Gótico e do início do Renascimento. Estes desenvolveram um conceito estético relacionado com a elevação da emoção e da vividez de cores. Os temas mitológicos, cenas medievais e cenas clássicas são temas recorrentes. As flores são um dos símbolos mais importantes usados por estes pintores, embebidas de significância poética, despertando a imaginação das pessoas até aos dias de hoje.
Realismo – Sobriedade e Razão
Praticamente paralela a esta corrente do Romantismo, no início do século XIX surge em França a corrente do Realismo. Ligada de forma estreita à progressiva industrialização e aos avanços científicos trazidos pela Revolução Industrial, este estilo de pintura deixa de lado as visões subjetivas e emotivas da realidade. Entre 1850 e 1890 o Realismo espalhou-se pelo Europa, rompendo com o tradicionalismo do Romantismo e do Neoclassicismo.
O Realismo procurou não só incorporar o progresso científico da época na pintura, como trouxe também à sua arte reflexões acerca da grande desigualdade social. Mas acima de tudo esta corrente foi uma forma de superar as tradições românticas e clássicas.
A pintura do Realismo começou por manifestar-se no tratamento da paisagem, que se despiu da exaltação e personificação românticas do Romantismo, para se focar simplesmente na reprodução desapaixonada e neutra do que se oferece à vista do pintor. Passou depois aos temas do quotidiano, que tratou de forma simples e crua, sem nada acrescentar ou retirar à realidade, algo totalmente inovador na pintura do século XIX.
O grande objetivo dos pintores realistas era retratar a realidade do povo de maneira concreta e não uma forma ideal como nos movimentos anteriores. Entre os temas mais desejados estão à paisagem e os retratos. As cores eram sóbrias e a pincelada era livre, o que resultava numa representação nítida da realidade que os cercava.
O Realismo reage assim à estética mística do Romantismo e pratica a arte assente na crítica à sociedade industrial. Nas últimas décadas do século XIX, a nova corrente do Impressionismo desloca-se da temática social e abala o mundo da arte, alterando para sempre as formas de produção, a crítica e o conceito de beleza. Esta corrente será abordada no próximo artigo. Não perca!
Neste artigo vamos fazer uma viagem visual através dos séculos, focada na pintura ocidental (a arte oriental será tema central noutros artigos) e nas flores como seu objeto central, fonte de inspiração e como símbolos eternizados nesta forma de arte.
Durante séculos as flores foram fonte de inspiração para milhares de pintores na sua arte. Vamos descobrir neste artigo as pinturas desde a época medieval até o Neoclassicismo do século XVIII, e a forma como as flores nelas representadas se altera, dependendo do período histórico e do contexto cultural, que faz emergir novos estilos de pintura ao longos dos tempos.
A extensão de estilos que emergiram, especialmente a partir do século XVIII, obrigou-me a dividir o artigo em 3 partes: da Idade Média ao Neoclassicismo do século XVIII; O Romantismo do século XIX e Do Impressionismo à atualidade.
Venha comigo iniciar esta viagem fascinante!
O Fascínio pelas Flores
As flores têm o poder de atrair e impressionar o Homem desde tempos imemoriais. Ao longo de milénios, as flores têm sido celebradas pelos seus benefícios, simbolismo e sentimentos que evocam, estimulando a criatividade dos artistas.
Na arte, as flores têm desde sempre uma presença central pela sua beleza e pelo fascínio que causam, presença essa transversal a todas as culturas e épocas históricas. Estas fazem parte de uma linguagem visual versátil, que permite aos artistas comunicar os seus pensamentos e emoções, tendo um impacto emocional em quem frui a arte. Não só as flores são usadas na arte pela sua beleza estética, como podem ser usadas como símbolos, transmitindo um significado específico. São assim um veículo para a narrativa que o artista pretende comunicar, transmitindo um determinado tema.
A representação das flores é sempre um reflexo do período histórico e do contexto cultural em que se inserem: por exemplo, nas obras que representam naturezas mortas, os objetos representados juntamente com as flores dão-nos informações acerca do quotidiano, dos valores e dos interesses do período em que foram pintadas.
As flores na pintura ocidental
Idade Média
As origens da representação de flores na pintura ocidental remonta ao período medieval, durante o qual eram usadas, por exemplo, para adornar manuscritos e tapeçarias.
Neste período as flores não eram apenas pintadas pelo aspeto estético, mas tinham também uma importância simbólica, havendo muitas vezes correspondência entre certas flores e virtudes cristãs.
Os motivos florais são assim proeminentes tanto em iluminuras como em tapeçarias. Não sendo obviamente pinturas, as tapeçarias e têxteis de larga escala tornaram-se extremamente populares nesta época, mais do que as pinturas. Eram usadas para adornar igrejas ou castelos. Muitas vezes nestas tapeçarias representava-se um grupo de pessoas sob um fundo embelezado com padrões florais repetidos. Estas tapeçarias eram conhecidas como “mille-fleur”, do francês “mil flores”.
Na pintura, as flores são comuns como adorno de cenas da nobreza ou cenas religiosas. Como excelente exemplo destas iluminuras temos o manuscrito do século XV ‘Très Riches Heures du Duc de Berry’. As iluminuras de estilo gótico, pintadas pelos irmãos Limbourg, são consideradas das mais expressivas desta época.
Renascimento, Arte Barroca e Rococó
O Período do Renascimento - no século XV e início do século XVI - foi um marco transformativo na arte europeia, com as flores a terem um papel cada vez mais central. Os detalhes florais eram meticulosamente inseridos pelos artistas nas suas pinturas.
Um exemplo icónico é a obra de Botticelli, “A Primavera” que ilustra figuras mitológicas num cenário repleto de flores.
Neste período muitos artistas renascentistas especializaram-se em naturezas mortas, que muitas vezes incluíam arranjos florais elaborados. No século XV e XVI, com o aumento dos contactos com culturas fora de Europa, as flores exóticas começam a surgir nestas pinturas. Este plano artístico vai assim lado a lado com os estudos botânicos que se começam a compilar nestes séculos.
Enquanto no Renascimento os temas artísticos se focam na harmonia, equilíbrio e moderação, na passagem para o estilo Barroco (nos séculos XVI e XVII) as pinturas surgem repletas de exuberância, contrastes mais fortes e realismo.
Os quadros do estilo Barroco são assim repletos de magníficos exemplos de pinturas com arranjos florais exuberantes.
O Rococó nasceu em Paris no início do século XVII, como uma reação da aristocracia francesa contra o Barroco sumptuoso, palaciano e solene praticado no período de Luís XIV. Caracterizou-se acima de tudo pelo seu carácter hedonista e aristocrático, manifestado em delicadeza, elegância, sensualidade e graça, e na preferência por temas leves e sentimentais, onde a linha curva, as cores claras e a assimetria tinham um papel fundamental na composição da obra.
Começou a ser criticada a partir de meados do século XVIII, com a ascensão dos ideais Iluministas, neoclássicos e burgueses, sobrevivendo até a Revolução Francesa, quando então caiu em descrédito completo, acusada de superficial, frívola, imoral e puramente decorativa.
Neoclassicismo do século XVIII
A corrente artística do Neoclassicismo, surgida entre meados do século XVIII e meados do século XIX, exerce uma influência decisiva sobre toda a pintura ocidental daquele período, reagindo contra a pompa e a densa ornamentação do Barroco e a frivolidade do Rococó.
A sua origem está ligada a importantes mudanças sociais, culturais e políticas que decorreram nesse período na Europa, nomeadamente a Revolução Francesa. Neste período começa a transição para uma cultura mais secularizada e mais científica, em estreita relação com a surgimento do Iluminismo como corrente ideológica.
A sua inspiração na cultura clássica da Antiguidade é evidente, especialmente nos temas escolhidos nas pinturas. É evidente o desejo de retorno ao passado, pela imitação dos modelos da Grécia e Roma Antigas, presente não só nos temas, mas também nas personagens escolhidas e na composição do design cénico.
Tecnicamente é um estilo academicista, ou seja, a pintura está sujeita aos modelos e às regras ensinadas nas Escolas ou Academias de Belas-Artes.
A arte era entendida como imitação da Natureza, num estilo sóbrio e linear, virando-se para a simplicidade serena da Natureza.
O estilo Neoclássico perdura no século XIX e vai conviver com o estilo do Romantismo, que se encontra no lado oposto do espectro no que se refere a temas, técnicas e mensagem, como irá descobrir no próximo artigo, dedicado exclusivamente à pintura do período do Romantismo! Não perca!
* As imagens sem referência à fonte são imagens de domínio público
Neste novo artigo, vamos explorar a fundo a Linguagem das Flores, ou Floriografia. Esta surgiu na Europa na época vitoriana e assentava na ideia que cada flor servia como símbolo ilustrativo para um sentimento abstrato. Eram assim usadas para enviar mensagens codificadas, permitindo que indivíduos expressassem sentimentos que de outra forma não poderiam ser ditos.
Venha comigo explorar este mundo fascinante!
Importância das Flores na História
O fascínio pelas flores existe desde sempre e desde há milhares de anos que o ser humano atribuiu significados específicos a variadas flores. Desde os tempos das civilizações Egípcias e Gregas que as flores tinham um papel importante em diversos contextos na sociedade.
Do Antigo Egipto chegam-nos evidências do papel central que as flores tinham, por exemplo, em rituais religiosos. O nenúfar era especialmente adorado, sendo usado em grinaldas festivas, coroas sagradas e como acessório de cabelo. Várias flores eram usadas para fins medicinais e rituais, sendo por isso uma parte essencial da sociedade egípcia.
Na Grécia e Roma Antigas, a adoração das flores continua, sendo estas utilizadas sob a forma de expressão artística ou religiosa, à semelhança dos egípcios. Eram comuns os símbolos religiosos relacionados com flores, encontrados em templos, bem como certas flores estarem associadas a estátuas de deusas. Tornou-se também comum as flores serem usadas na decoração de banquetes, aparecendo nesta altura os arranjos florais elaborados. São também conhecidas as coroas de louro, usadas pelos imperadores romanos.
Na Idade Média as flores adquirem uma conotação mais religiosa, especialmente desde os séculos XII e XIII. Como exemplo, a rosa inglesa simbolizava a virtude e virgindade no contexto da Igreja Católica. Esta mesma rosa representada o amor romântico entre os nobres da corte e da realeza.
A conhecida “Guerra das Rosas” em Inglaterra, entre 1455 e 1485, opôs duas famílias – Lancaster e York - cada uma representada por rosas: uma branca e outra vermelha. Este conflito que durou várias gerações culminou na combinação das duas rosas, com o rei Henrique VII (1491-1547) da linhagem dos Tudor a adotá-la como símbolo da sua casa. A combinação das duas rosas simbolizava a união e a prosperidade.
Durante o período do Renascimento, nos séculos XVI e XVII, grinaldas e coroas florais tornaram-se moda, sendo que nestes séculos as flores tinham uma conotação mais política e religiosa do que medicinal.
É também nesta época que as flores passam a ter um lugar cada vez mais central na sociedade, com a exploração, por parte dos países europeus, de continentes nunca antes alcançados. Neles descobrem-se uma enorme variedade de flores exóticas que foram sendo introduzidas na Europa. É assim na sequência destas descobertas que o cultivo de flores em particular e a horticultura em geral adquirem um lugar central na sociedade, chamando a si um enorme número de entusiastas. Assiste-se a um conjunto de inovações relacionadas com este cultivo e os arranjos florais adquirem o seu lugar central na sociedade europeia.
Na arte, as pinturas de flores tornam-se mais realistas e tridimensionais, nomeadamente no período Barroco. Note-se os caules revirados, a representação de flores em botão e folhas no reverso, características desta escola artística.
No século XVIII a popularidade das flores transcende as pinturas, esculturas e outras representações artísticas e passa para a esfera da moda. Os bouquets desta época foram uma clara inspiração para tecidos, especialmente na corte francesa do Rei Luis XIV em Versailles. Pela primeira vez, as flores passam a ser representadas nas roupas, não pelo seu carácter religioso, político ou sentimental, mas puramente pela sua beleza aplicada à moda.
A chegada da Linguagem das Flores à Europa
Hoje pensa-se que a atribuição de um significado a uma flor especifica venha desde tempos medievais, passada para o período do Renascimento. Várias flores eram associadas a virtudes de determinados santos, sendo por isso inseridas na iconografia religiosa. Na época vitoriana, esta Linguagem das flores passa para o plano secular.
Pensa-se que a Floriografia (ou Linguagem das Flores) terá sido trazida para a Europa no século XVII desde a Turquia atual, mais precisamente da corte de Constantinopla, onde um fascínio pelas tulipas persistiu ao longo da primeira metade do século XVIII. Terá sido pelas mãos de Aubry de La Mottraye (viajante e diplomata) que numa visita à Suécia trouxe de Constantinopla a moda da linguagem das flores. Este, juntamente com Mary Wortley Montagu - esposa do embaixador britânico em Constantinopla - ajudaram a lançar a moda de dar flores para marcar certos eventos, tendo estudado a Linguagem das flores específica da tradição persa.
Pensa-se que terá sido Joseph Hammer-Purgstall, em 1809, a publicar a primeira lista associando flores a definições simbólicas, o "Dictionnaire du language des fleurs". Em seguida, em 1819, Louise Cortambert, escrevendo sob o pseudónimo de Madame Charlotte de la Tour, criou o primeiro dicionário de floriografia intitulado "Le langage des Fleurs".
A moda da floriografia espalhou-se também para os Estados Unidos, onde surgem autores com as suas próprias edições dedicadas ao tema, como “Flora's Dictionary" de Elizabeth Wirt e "The Garland of Flora" de Dorothea Dix, ambos foram publicados em 1829.
Sabemos que a Floriografia era um dos passatempos favoritos da Rainha Vitória. É assim na época vitoriana que se tornou comum presentes sob a forma de flores, plantas e arranjos florais, que eram usados para transmitir mensagens codificadas. Os namorados desta época enviavam “bouquets falantes” chamados na língua inglesa de “nosegays” ou “tussie-mussies”. Estes ramos eram originalmente usados na Idade Média para minimizar os odores em redor de quem o transportava (daí serem usadas flores muito aromáticas). Na época vitoriana começam a ter então um carácter mais simbólico do que prático, tornando-se num acessório de moda da Alta Sociedade. Estes ramalhetes podiam ser oferecidos num vaso decorado, de vários materiais (prata, marfim, porcelana, madrepérola ou palha).
Ao usar uma certa flor - como uma rosa vermelha para paixão, uma rosa cor-de-rosa simbolizando um novo amor ou uma rosa branca significando pureza - as senhoras podiam transmitir os seus estados de espírito, a sua disposição romântica e a sua disponibilidade (ou não) para um evento próximo, um baile ou um jantar. Desta forma estas questões não eram faladas publicamente, mas a mensagem era transmitida.
O significado das flores
Na cultura ocidental, o significado atribuído a flores específicas era diversificado - praticamente todas as flores possuíam múltiplas associações, listadas em centenas de dicionários florais. No entanto, emergiu um consenso sobre o significado de flores comuns. Frequentemente, as definições estão relacionadas com a aparência ou o comportamento próprio da planta em questão.
O local onde as senhoras exibiam as flores também tinha um significado. Suponhamos, por exemplo, que um pretendente lhe tenha enviado um ramalhete. Caso ela o prendesse no colarinho, isso seria uma má notícia para ele, pois significaria apenas amizade. Mas se ela o colocasse sobre o coração, essa seria uma declaração inequívoca de amor.
Aqui segue uma lista de significados de algumas das flores mais comuns:
Alfazema – Desconfiança
Amarílis - Orgulho
Amor-perfeito - Pensamento
Anémona - Abandono
Astromélia – Amizade, Devoção
Begónia – Ter cuidado
Boca-de-lobo – Engano
Calla - Beleza
Camélia vermelha – “És uma chama no meu coração”
Camélia branca – “És adorável”
Cravo vermelho – Amor profundo
Cravo Branco – Inocência, Amor puro
Cravo amarelo - Desdém, Desapontamento, Rejeição
Camomila – Paciência na adversidade
Crisântemo vermelho – “Amo-te”
Crisântemo amarelo – Amor desprezado
Crisântemo branco – Verdade
Ervilha-de-cheiro - Adeus
Gardénia- Amor secreto
Gerânio- Estupidez
Girassol - Adoração
Gladíolo - Integridade, Força, Vitória
Hibisco – Beleza delicada
Hortênsia - Gratidão
Íris – Fé, Sabedoria, Esperança
Jacinto azul - Constância
Jacinto amarelo – Inveja
Jacinto branco – Oração
Jasmim– Amor Doce
Lírio Branco – Virgindade, Pureza
Lírio Amarelo - Alegria
Lírio laranja – Ódio
Lírio-do-vale – Doçura, Humildade
Nenúfar – Pureza, Regeneração
Magnólia – Nobreza
Madressilva – Laços de amor
Malmequer – Inocência, Lealdade
Narciso – Atenção, Amor inigualável
Orquídea – Beleza exótica, Força
Peónia - Vergonha
Papoila - Consolo
Rosa vermelha - Amor
Rosa vermelha escura - Luto
Rosa cor-de-rosa - Felicidade
Rosa branca - Inocência
Rosa amarela – Inveja, Infidelidade
Tulipa vermelha – Declaração de amor, Paixão
Tulipa amarela – Luz do sol
Verónica – Feminino, Fidelidade
Violeta - Modéstia
Zinia – Afeto duradouro
Para além destes atributos, a escolha feita entre uma flor solitária ou um bouquet tinha um significado especial e podia transmitir mensagens diferentes, adicionando nuances à comunicação.
Assim, uma flor solitária remete para um sentido de simplicidade e clareza da mensagem, enfatizando o significado da flor, não deixando margem para dúvidas. Poderia ser usada na fase inicial da relação, indicando os eventuais sentimentos mais profundos que possam vir a surgir.
O bouquet transmitia mais complexidade e uma combinação de emoções, tornando a mensagem mais personalizada. Podia também ser mandado para celebrar uma ocasião especial como um nascimento, casamento ou aniversários, onde coexistem inúmeros sentimentos.
Bouquets na atualidade
Com esta linguagem floral em mente, da próxima vez que for compor um bouquet para uma ocasião especial, experimente usar flores que queiram transmitir os seus sentimentos!
Para um nascimento poderá ser um ramo de cravos branco, hibisco, lírio-do-vale, rosas cor-de-rosa e rosas brancas, que rementem para a inocência, a doçura e a felicidade.
Para um aniversário de uma amiga por exemplo, sugerimos as astromélias, crisântemos brancos e gladíolos, simbolizando a amizade, força e integridade.
Um bouquet de agradecimento poderá ter hortências e magnólias.
Para um casamento, as escolhas abundam! Pode incluir: Callas, camélias, crisântemos vermelhos ou brancos, orquídeas, rosas vermelhas, cor-de-rosa ou brancas, túlipas vermelhas ou amarelas, girassóis e zinias – todas com significados relacionadas com o amor, a beleza e a verdade.
Sem dúvida que atualmente se pode afirmar que as flores prensadas estão na moda, com cada vez mais artistas a dedicarem-se a esta forma de preservar a beleza das flores e transformá-las em obras de arte. Mas este fascínio com a preservação da beleza das flores nesta forma não é recente, muito pelo contrário! Venha comigo numa viagem surpreendente pela História, que nos leva há mais de 3000 anos e a vários recantos do planeta!
1 – Primórdios: O fascínio pelas flores
É seguro assumir que a beleza das flores sempre fascinou os homens desde tempos imemoriais. Há evidências de que desde épocas pré-históricas as flores seriam usadas em túmulos, bem como para outros fins, como pigmentos ou fins culinários.
A busca pela preservação da beleza das flores terá começado cedo, havendo evidências de grinaldas de flores secas em túmulos do Antigo Egipto há mais de 3000 anos. Os egípcios acreditavam que as flores representavam o ciclo da vida e da morte. Usavam as flores também como cosmético, nomeadamente para fazer perfumes e óleos, e para fins rituais e cerimoniais. O lótus azul, por exemplo, era associado ao deus Nefertum e acreditava-se que tinha poderes curativos.
Sabemos que também na Grécia antiga já havia o conhecimento de que as flores podiam ser preservadas através da secagem, usando-as em grinaldas e coroas.
As flores eram também associadas ao panteão de deuses e deusas clássico, facto bem representado em obras de arte e literatura. Na Roma Antiga, as flores eram usadas em cerimónias privadas e públicas, correspondendo a símbolos de estatuto social e poder (as famosas coroas de louros dos imperadores são disso um óptimo exemplo).
O lírio, por exemplo, era associado à deusa Juno, e muito comum na decoração de espaços públicos. A rosa era associada à deusa do amor Afrodite, sendo por isso usada como forma de corte.
As flores são uma parte integrante dos mitos greco-romanos, carregadas de simbolismo. A rosa é um anagrama de Eros, filho de Afrodite, sendo que esta assim nomeou – em honra do seu filho - a mais bela flor criada por Clóris, a deusa das flores. Esta flor ficou para sempre associada ao amor romântico.
O narciso tem o seu nome para sempre ligado à figura da mitologia romana com o mesmo nome, que se apaixonou pelo seu próprio reflexo, não correspondendo o amor da ninfa Eco. Esta apela à deusa Némesis, que por vingança transforma Narciso em flor. O narciso simboliza por isso o amor não correspondido.
São inúmeras as referências a flores nos mitos e lendas durante a Antiguidade Clássica sendo estas por isso uma parte integrante no imaginário das populações europeias, o mesmo acontecendo no Oriente.
Na Índia por exemplo, durante a período Mughalas, as flores tinham um papel importante em vários aspectos da vida quotidiana. Os imperadores desta época eram conhecidos pelo seu amor por jardins e flores, tendo desenvolvido a arte dos arranjos de flores, conhecida como “phoolon ki chadar”. As flores eram usadas em cerimónias religiosas, decoração e fins medicinais.
De volta à Europa, na Idade média, há inúmeras tradições que se relacionam com o uso de ramos de flores para afastar doenças das casas, bem como o uso de flores para fins medicinais. Era também comum por exemplo, espalhar alfazema no chão para purificar o ar das casas (e para impedir que os demónios escapassem do inferno!).
As flores e as plantas já tinham assim um papel significativo na vida das pessoas, quer ao nível do imaginário, quer integrando-as no dia-a-dia, nomeadamente as flores secas e preservadas. Mas será no Oriente, nomeadamente no Japão, que a prensagem de flores propriamente dita surgirá.
2- A “oshibana” japonesa
A prensagem de flores como forma de arte começa verdadeiramente no Japão durante o século XVI. Conhecida como “oshibana” (押し花), sabe-se que esta arte foi criada para preservar a beleza das estações em constante mudança e significa “pintar” uma imagem com elementos naturais, como as flores e folhas prensadas.
Apesar de ser uma ocupação acessível, requeria muito tempo e paciência, havendo necessidade de respeitar diversas fases, como colher a flor, preparar a flor para a prensa ou livro, prensar e verificar a prensa, aguardar que a flor fique completamente seca e prensada. Depois deste processo concluído (que pode corresponder a várias semanas ou meses) fazia-se então a composição artística inspirada na Natureza, usando flores e folhas prensadas, normalmente coladas em papel “washi”, de forma preencher um esboço feito de antemão.
Esta forma de arte era inclusivamente ensinada aos samurais, de forma a praticarem a paciência e a concentração, ligados ao ideal de convívio harmonioso com a Natureza. Os resultados são incríveis, mal podemos acreditar que não são pinturas!
3- A passagem para Ocidente
Pensamos que o início das relações mais próximas dos europeus com o Oriente, nomeadamente com o Japão, poderá ter trazido esta forma de arte para a Europa no século XVIII.
A prensagem de flores surge na Europa não só como arte, mas também como método científico, pelas mãos dos exploradores e dos naturalistas, que usam herbários com plantas e flores prensadas de forma a catalogar espécies descobertas fora da Europa, mas também para sistematizar o conhecimento científico.
Houve quem aliasse o conhecimento científico à poesia, como é o caso da poetisa americana Emily Dickinson, que compilou durante a sua vida um herbário magnífico, que sobreviveu até os dias de hoje, estando atualmente preservado no Smithsonian Museum em Washington. Nele há mais de 1123 espécies preservadas, aliadas a inúmeras poesias da autora que são uma verdadeira ode à Natureza! O livro está editado em português pela editora Relógio d´água.
Durante a época vitoriana do século XIX esta forma de arte tornou-se moda na sociedade. Foi especialmente expressiva em Inglaterra nas classes sociais médias e altas (a própria Rainha Vitória prensava flores como formas de preservar memórias) e nos Estados Unidos. Era uma forma de as senhoras da sociedade estarem próximas da Natureza (um dos principais ideais do Romantismo do século XIX) e de desenvolverem os seus dotes artísticos. A prensagem das flores tinha também uma conotação simbólica, já que era uma forma de preservar flores com significado afectivo ou com um simbolismo especial. As senhoras passavam assim muito tempo nos seus jardins e em passeios pelo campo a colher flores que depois prensavam em livros ou em prensas próprias de madeira.
É na época vitoriana que surge também a floriografia ou os dicionários de flores, baseado no livro “A Linguagem das Flores” de Charlotte de la Tour. A cada flor é atribuída um significado e estas eram enviadas ou usadas pelas senhoras de forma comunicar sentimentos variados - numa época em que estes não eram falados abertamente em sociedade.
Por exemplo, uma rosa vermelha significa paixão, mas uma rosa amarela significa que esse amor já não é correspondido. Eram, pois, uma forma de enviar mensagens codificadas, transmitidas em bailes ou outros eventos sociais, através de pequenos ramos florais que as senhoras usavam no vestuário, preso no peito, no pulso ou mesmo no cabelo (o local onde se usava as flores também correspondia a um significado diferente!).
A popularidade deste fenómeno floral atravessou toda a Europa e Estados Unidos, sendo um passatempo cheio de simbolismo, sentimentalismo e nostalgia. A prensagem de flores aliava vários dos ideais vitorianos - o contacto com a Natureza, o Romantismo, o cultivo da Arte - e existem exemplos desta arte que nos chegaram em excelente estado de conservação aos dias de hoje. Havia ainda um cuidado particular na exibição das criações artísticas com flores prensadas, sendo muitas vezes emolduradas em arranjos elaborados, por vezes com pedaços de fita de cetim ou veludo a complementar as flores.
Em 1920 dá-se a publicação do livro „Flower of the Holy Land“, no qual Frederick Vester exibia flores prensadas colhidas em Jerusalém e outros países do Médio Oriente. Este exemplo acaba por aliar o carácter científico, exibindo espécimes florais e vegetais de um país distante, mas feito de forma artística, como se pode constatar pelas imagens.
4- Modernidade
Um exemplo mais recente de uma acérrima defensora e praticante da prensagem de flores é Grace Kelly, que enquanto Princesa do Mónaco praticou a arte da “oshibana”, ajudando a promover a arte da prensagem de flores em todo o mundo. Era seu hábito prensar flores que lhe eram enviadas do estrangeiro. Escreveu inclusivamente um livro sobre o assunto “My Book of Flowers”, publicado em 1980, dois anos antes da sua trágica morte. Nele, Grace Kelly escreveu estas delicadas palavras:
»Through working with flowers we began to discover things about ourselves that had been dormant. We found agility not only with our fingers but with our inner eyes in searching for line, scale and harmony. In bringing out these talents within ourselves, we gained a dimension that enabled us not only to search for harmony in an arrangement, but also to discover the importance of carrying it into our lives and our homes.«
Sem dúvida que esta contribuiu para que esta moda ressurgisse no final do século XX. Nestas imagens podemos ver Grace Kelly a finalizar um trabalho em “oshibana” e um exemplo da sua arte.
Em 1993 Nobuo Sugino, mestre japonês na arte da “oshibana”, começa a viajar pelo mundo para recolher exemplares de flores prensadas, tendo em 1997, transformado a sua coleção no “International Pressed Flower Art Book”. Esta obra popularizou a “oshibana” no mundo inteiro, levando à emergência de várias organizações internacionais e ao reconhecimento da “oshibana” como uma forma de arte única. Desde 2010 que Nobuo Sugino é o presidente da International Pressed Flower Art Society que trabalha no sentido de manter a prática e a promoção da arte da prensagem de flores em todo o mundo.
Atualmente, esta forma de arte está cada vez mais na moda, sendo inúmeras as aplicações dadas às flores prensadas, quer sejam mais semelhantes às clássicas, como para fazer quadros e composições artísticas inspiradas na Natureza, quer seja como forma de preservação de bouquets de noiva ou de aniversário, ou mesmo para fazer joalharia, ou os mais variados objectos usando resina, madeira, vidro, entre muitos outros.
Ainda no ano passado, em 2023, o New York Times escreveu um artigo acerca das flores prensadas, intitulado “Why Are People Still Pressing Flowers? It’s a Form of Storytelling” no qual mostra o trabalho incrível da Lacie Porta da Framed Florals e demonstra que esta arte está definitivamente de volta ao coração de muitos artistas.
Quer o pratiquemos como passatempo, quer seja uma paixão a que nos dedicamos a tempo inteiro, é extremamente compensadora e terapêutica. Um actividade que nos obriga a estar em contacto com a Natureza, a compreendê-la e, acima de tudo, a respeitá-la.
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