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A Linguagem das Flores

Neste novo artigo, vamos explorar a fundo a Linguagem das Flores, ou Floriografia. Esta surgiu na Europa na época vitoriana e assentava na ideia que cada flor servia como símbolo ilustrativo para um sentimento abstrato. Eram assim usadas para enviar mensagens codificadas, permitindo que indivíduos expressassem sentimentos que de outra forma não poderiam ser ditos.

Venha comigo explorar este mundo fascinante!

Importância das Flores na História

O fascínio pelas flores existe desde sempre e desde há milhares de anos que o ser humano atribuiu significados específicos a variadas flores. Desde os tempos das civilizações Egípcias e Gregas que as flores tinham um papel importante em diversos contextos na sociedade.

Do Antigo Egipto chegam-nos evidências do papel central que as flores tinham, por exemplo, em rituais religiosos. O nenúfar era especialmente adorado, sendo usado em grinaldas festivas, coroas sagradas e como acessório de cabelo.  Várias flores eram usadas para fins medicinais e rituais, sendo por isso uma parte essencial da sociedade egípcia.

Na Grécia e Roma Antigas, a adoração das flores continua, sendo estas utilizadas sob a forma de expressão artística ou religiosa, à semelhança dos egípcios. Eram comuns os símbolos religiosos relacionados com flores, encontrados em templos, bem como certas flores estarem associadas a estátuas de deusas. Tornou-se também comum as flores serem usadas na decoração de banquetes, aparecendo nesta altura os arranjos florais elaborados. São também conhecidas as coroas de louro, usadas pelos imperadores romanos.

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“Flora”, deusa romana das flores, fresco do século I a.c.

Na Idade Média as flores adquirem uma conotação mais religiosa, especialmente desde os séculos XII e XIII. Como exemplo, a rosa inglesa simbolizava a virtude e virgindade no contexto da Igreja Católica. Esta mesma rosa representada o amor romântico entre os nobres da corte e da realeza.

A conhecida “Guerra das Rosas” em Inglaterra, entre 1455 e 1485, opôs duas famílias – Lancaster e York – cada uma representada por rosas: uma branca e outra vermelha. Este conflito que durou várias gerações culminou na combinação das duas rosas, com o rei Henrique VII (1491-1547) da linhagem dos Tudor a adotá-la como símbolo da sua casa. A combinação das duas rosas simbolizava a união e a prosperidade.

Brasões

Durante o período do Renascimento, nos séculos XVI e XVII, grinaldas e coroas florais tornaram-se moda, sendo que nestes séculos as flores tinham uma conotação mais política e religiosa do que medicinal.

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Detalhe da “Primavera” de Botticelli, 1477

É também nesta época que as flores passam a ter um lugar cada vez mais central na sociedade, com a exploração, por parte dos países europeus, de continentes nunca antes alcançados. Neles descobrem-se uma enorme variedade de flores exóticas que foram sendo introduzidas na Europa. É assim na sequência destas descobertas que o cultivo de flores em particular e a horticultura em geral adquirem um lugar central na sociedade, chamando a si um enorme número de entusiastas. Assiste-se a um conjunto de inovações relacionadas com este cultivo e os arranjos florais adquirem o seu lugar central na sociedade europeia.

Na arte, as pinturas de flores tornam-se mais realistas e tridimensionais, nomeadamente no período Barroco. Note-se os caules revirados, a representação de flores em botão e folhas no reverso, características desta escola artística.

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“Vase of flowers” de Jan Davidsz de Heem, 1645

No século XVIII a popularidade das flores transcende as pinturas, esculturas e outras representações artísticas e passa para a esfera da moda. Os bouquets desta época foram uma clara inspiração para tecidos, especialmente na corte francesa do Rei Luis XIV em Versailles. Pela primeira vez, as flores passam a ser representadas nas roupas, não pelo seu carácter religioso, político ou sentimental, mas puramente pela sua beleza aplicada à moda.

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Vestido de chita inglês, 1770-80
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Detalhe de vestido francês de 1725

A chegada da Linguagem das Flores à Europa

Hoje pensa-se que a atribuição de um significado a uma flor especifica venha desde tempos medievais, passada para o período do Renascimento. Várias flores eram associadas a virtudes de determinados santos, sendo por isso inseridas na iconografia religiosa. Na época vitoriana, esta Linguagem das flores passa para o plano secular.

Pensa-se que a Floriografia (ou Linguagem das Flores) terá sido trazida para a Europa no século XVII desde a Turquia atual, mais precisamente da corte de Constantinopla, onde um fascínio pelas tulipas persistiu ao longo da primeira metade do século XVIII. Terá sido pelas mãos de Aubry de La Mottraye (viajante e diplomata) que numa visita à Suécia trouxe de Constantinopla a moda da linguagem das flores. Este, juntamente com Mary Wortley Montagu – esposa do embaixador britânico em Constantinopla – ajudaram a lançar a moda de dar flores para marcar certos eventos, tendo estudado a Linguagem das flores específica da tradição persa.

Pensa-se que terá sido Joseph Hammer-Purgstall, em 1809, a publicar a primeira lista associando flores a definições simbólicas, o “Dictionnaire du language des fleurs”. Em seguida, em 1819, Louise Cortambert, escrevendo sob o pseudónimo de Madame Charlotte de la Tour, criou o primeiro dicionário de floriografia intitulado “Le langage des Fleurs”.

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Página do livro de Charlotte de la Tour “Le Langage des Fleurs”, 1819. Fonte: cultureandcommunication.org

A moda da floriografia espalhou-se também para os Estados Unidos, onde surgem autores com as suas próprias edições dedicadas ao tema, como “Flora’s Dictionary” de Elizabeth Wirt e “The Garland of Flora” de Dorothea Dix, ambos foram publicados em 1829.

Sabemos que a Floriografia era um dos passatempos favoritos da Rainha Vitória. É assim na época vitoriana que se tornou comum presentes sob a forma de flores, plantas e arranjos florais, que eram usados para transmitir mensagens codificadas. Os namorados desta época enviavam “bouquets falantes” chamados na língua inglesa de “nosegays” ou “tussie-mussies”. Estes ramos eram originalmente usados na Idade Média para minimizar os odores em redor de quem o transportava (daí serem usadas flores muito aromáticas). Na época vitoriana começam a ter então um carácter mais simbólico do que prático, tornando-se num acessório de moda da Alta Sociedade. Estes ramalhetes podiam ser oferecidos num vaso decorado, de vários materiais (prata, marfim, porcelana, madrepérola ou palha).

“Un élégant bouquet” de Gustave-Jean Jacquet, 1886

Ao usar uma certa flor –  como uma rosa vermelha para paixão, uma rosa cor-de-rosa simbolizando um novo amor ou uma rosa branca significando pureza – as senhoras podiam transmitir os seus estados de espírito, a sua disposição romântica e a sua disponibilidade (ou não) para um evento próximo, um baile ou um jantar. Desta forma estas questões não eram faladas publicamente, mas a mensagem era transmitida.

O significado das flores

Na cultura ocidental, o significado atribuído a flores específicas era diversificado – praticamente todas as flores possuíam múltiplas associações, listadas em centenas de dicionários florais. No entanto, emergiu um consenso sobre o significado de flores comuns. Frequentemente, as definições estão relacionadas com a aparência ou o comportamento próprio da planta em questão.

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Postal ilustrado inglês, impresso por The Regent Publishing Co Ltd.

O local onde as senhoras exibiam as flores também tinha um significado. Suponhamos, por exemplo, que um pretendente lhe tenha enviado um ramalhete. Caso ela o prendesse no colarinho, isso seria uma má notícia para ele, pois significaria apenas amizade. Mas se ela o colocasse sobre o coração, essa seria uma declaração inequívoca de amor.

Aqui segue uma lista de significados de algumas das flores mais comuns:

Alfazema – Desconfiança

Amarílis – Orgulho

Amor-perfeito – Pensamento

Anémona – Abandono

Astromélia – Amizade, Devoção

Begónia – Ter cuidado

Boca-de-lobo – Engano

Calla – Beleza    

Camélia vermelha – “És uma chama no meu coração”

Camélia branca – “És adorável”

Cravo vermelho – Amor profundo

Cravo Branco – Inocência, Amor puro

Cravo amarelo – Desdém, Desapontamento, Rejeição   

Camomila – Paciência na adversidade

Crisântemo vermelho – “Amo-te”

Crisântemo amarelo – Amor desprezado

Crisântemo branco – Verdade

Ervilha-de-cheiro – Adeus

Gardénia- Amor secreto

Gerânio- Estupidez

Girassol – Adoração

Gladíolo – Integridade, Força, Vitória

Hibisco – Beleza delicada

Hortênsia – Gratidão

Íris – Fé, Sabedoria, Esperança

Jacinto azul – Constância

Jacinto amarelo – Inveja

Jacinto branco – Oração

Jasmim– Amor Doce

Lírio Branco – Virgindade, Pureza

Lírio Amarelo –  Alegria

Lírio laranja – Ódio  

Lírio-do-vale – Doçura, Humildade

Nenúfar – Pureza, Regeneração

Magnólia – Nobreza

Madressilva – Laços de amor

Malmequer – Inocência, Lealdade

Narciso – Atenção, Amor inigualável

Orquídea – Beleza exótica, Força

Peónia – Vergonha

Papoila – Consolo

Rosa vermelha – Amor

Rosa vermelha escura – Luto

Rosa cor-de-rosa – Felicidade

Rosa branca – Inocência

Rosa amarela – Inveja, Infidelidade

Tulipa vermelha – Declaração de amor, Paixão

Tulipa amarela – Luz do sol        

Verónica – Feminino, Fidelidade

Violeta – Modéstia

Zinia – Afeto duradouro

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"Day Dreaming" de Auguste Toulmouche, 1881

Para além destes atributos, a escolha feita entre uma flor solitária ou um bouquet tinha um significado especial e podia transmitir mensagens diferentes, adicionando nuances à comunicação.

Assim, uma flor solitária remete para um sentido de simplicidade e clareza da mensagem, enfatizando o significado da flor, não deixando margem para dúvidas. Poderia ser usada na fase inicial da relação, indicando os eventuais sentimentos mais profundos que possam vir a surgir.

O bouquet transmitia mais complexidade e uma combinação de emoções, tornando a mensagem mais personalizada. Podia também ser mandado para celebrar uma ocasião especial como um nascimento, casamento ou aniversários, onde coexistem inúmeros sentimentos.

Bouquets na atualidade

Com esta linguagem floral em mente, da próxima vez que for compor um bouquet para uma ocasião especial, experimente usar flores que queiram transmitir os seus sentimentos!

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Para um nascimento poderá ser um ramo de cravos branco, hibisco, lírio-do-vale, rosas cor-de-rosa e rosas brancas, que rementem para a inocência, a doçura e a felicidade.

Para um aniversário de uma amiga por exemplo, sugerimos as astromélias, crisântemos brancos e gladíolos, simbolizando a amizade, força e integridade.

Um bouquet de agradecimento poderá ter hortências e magnólias.

Para um casamento, as escolhas abundam! Pode incluir: Callas, camélias, crisântemos vermelhos ou brancos, orquídeas, rosas vermelhas, cor-de-rosa ou brancas, túlipas vermelhas ou amarelas, girassóis e zinias – todas com significados relacionadas com o amor, a beleza e a verdade.

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