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As Flores na Pintura através dos tempos – parte 3

A alma das flores no Impressionismo

A corrente do Impressionismo surge como um romper artístico com o Realismo, no período que se denomina de Belle Époque. A Belle Époque foi um período de cultura cosmopolita na história da Europa, que começou no fim do século XIX e durou até à Primeira Guerra Mundial, em 1914. A expressão designa o clima intelectual e artístico marcado por profundas transformações culturais, assente numa cultura urbana de lazer.

O nome do movimento artístico é derivado da obra “Impressão: nascer do sol” de 1872, de Claude Monet.

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“Impression, soleil levant” de Claude Monet, 1872. In Museu Marmottan Monet, Paris

Édouard Manet é considerado o precursor deste movimento artístico, sendo hoje considerado como um dos mais importantes pintores do Impressionismo francês. As suas obras iniciais possuíam fortes características do Realismo, mas esta vai evoluindo, muito devido à amizade com pintores como Monet e Renoir, seus contemporâneos. Estes jovens pintores influenciaram a pintura do mestre, que passa a usar uma pincelada rápida e fluida, que se tornará característica do Impressionismo. A pintura “Música nas Tulherias” marca o seu rompimento com o Realismo, sendo considerada a primeira obra impressionista de Manet.

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“La Musique aux Tuileries” de Édouard Manet, 1862*

Os impressionistas compunham as suas pinturas com cores colocadas na tela com pinceladas livres, que não se regiam por linhas ou contornos, seguindo o exemplo de pintores percussores deste movimento, como Eugène Delacroix e William Turner.

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“The Burning of the Houses of Lords and Commons, 16 October 1834” de William Turner, ca. 1834–1835 (Cleveland Museum of Art).

A busca pelos elementos fundamentais desta corrente levou os pintores impressionistas a procurar diferentes temas para representarem nas pinturas. Não lhes interessavam temáticas nobres ou o retrato fiel da realidade. A luz e o movimento utilizando pinceladas soltas tornam-se o principal elemento da pintura, sendo que geralmente as telas eram pintadas ao ar livre para que o pintor pudesse capturar melhor as variações de cores da natureza. Os impressionistas são exímios a transmitir nas suas pinturas a luz e a forma como esta altera as cores na Natureza em nosso redor.

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“Essai de figure en plein air - femme à l'ombrelle tournée vers la gauche” de Claude Monet, 1886. (Musée D’Orsay, Paris)

As tintas não eram misturadas para fazer diferentes cores, mas sim aplicadas com pequenas pinceladas de cores complementares. Desta maneira a mistura era feita pelos olhos do observador, remetendo para uma sensação de movimento.

As flores na sua essência

As flores são um exemplo perfeito do romper do Impressionismo com as correntes anteriores: as flores não são pintadas para serem identificadas ou analisadas, mas sim para serem sentidas, representadas através de manchas de cor, obtidas com pinceladas leves e soltas, que nos transmitem a “impressão” que os pintores têm das flores.

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“Bouquet des fleurs” de Édouard Manet, 1882*

É notório em vários pintores o desejo de preservar a essência e a sensação das flores na pintura, mais do que os seus aspetos físicos. Os impressionistas procuravam retratar os objetos através do contraste de cor e luz, onde as próprias pinceladas se tornam uma marca de luz e sombra na tela. A pincelada do Impressionismo deixa uma marca na tela, como se fosse a letra do autor; o seu relevo, deixado na tela propositalmente, faz com que a luz e sombra estejam presentes em cada pincelada. A sensação, elemento fundamental do Impressionismo, deixa de ser puramente fisiológica e passa a ser construída e deliberada.

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“Bouquet de Roses” de Pierre-Auguste Renoir, ca. 1890*

Em pinturas como as de Renoir, que com frequência pintava rosas, está subjacente o desejo de evocar o sentimento do objecto e não nos seus detalhes físicos. Isto permitiu criar pinturas de flores que quase se sentem no tacto, com uma energia que irradia da tela.

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“Les Nymphéas” de Claude Monet, 1908.

Claude Monet é uma figura incontornável desta corrente artística, não só no seio dos pintores impressionistas, mas no âmbito global dos pintores que dedicaram uma parte da sua obra a retratar flores. Com a sua série icónica dos nenúfares, com mais de 200 peças pintadas ao longo de 30 anos, Monet leva-nos para a beleza do seu jardim em Giverny, onde as pintou todas “en plein air”, como passou a ser moda com os impressionistas.

Estas pinturas transportam-nos para as sensações que as flores nos despertam, de uma forma tão bem-sucedida, que chega a ser uma experiência comovente.

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“Les Nymphéas” de Claude Monet, ca.1895*

São inúmeros os nomes e as pinturas belíssimas do Impressionismo que têm as flores como elemento central, e a escolha de exemplos é difícil. Realço os trabalhos da Mary Cassatt, Pierre-Auguste Renoir, Berthe Morisot, Edgar Degas e os já referidos Claude Monet e Édouard Manet. Todos eles personificam a arte do imediato, do movimento e da luz.

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“Lydia Seated in the Garden with a Dog in Her Lap” de Mary Cassatt, ca. 1880.
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“Lilacs in a window” de Mary Cassatt, ca. 1880*

A reação pública, nomeadamente a dos críticos do meio artístico, foi hostil, já que os impressionistas violaram as convenções da pintura académica. Eventualmente é o público que vai mudando de opinião, acreditando que estes pintores eram capazes de capturar nas suas pinturas uma visão fresca e original da realidade, mesmo que os críticos de arte continuassem a desaprovar o novo estilo.

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“Une femme assise à côté d’un vase de fleurs (Madame Paul Valpinçon)” de Edgar Degas, 1865. Coleção H. O. Havemeyer.
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“Peonies” de Berthe Morisot, ca. 1869*

Ao recriarem a sensação visual do espectador, ao invés de delinear os detalhes do objeto da pintura, e ao criarem uma panóplia de técnicas e formas, o Impressionismo é o precursor dos vários movimentos artísticos que lhe vão seguir, incluindo o Pós-impressionismo, o Fauvismo e o Cubismo.

Estes movimentos artísticos vão ser descritos nos próximos artigos!

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