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As Flores na Pintura através dos tempos – parte 1

Da Idade Média ao Neoclassicismo

Neste artigo vamos fazer uma viagem visual através dos séculos, focada na pintura ocidental (a arte oriental será tema central noutros artigos) e nas flores como seu objeto central, fonte de inspiração e como símbolos eternizados nesta forma de arte.

Durante séculos as flores foram fonte de inspiração para milhares de pintores na sua arte. Vamos descobrir neste artigo as pinturas desde a época medieval até o Neoclassicismo do século XVIII, e a forma como as flores nelas representadas se altera, dependendo do período histórico e do contexto cultural, que faz emergir novos estilos de pintura ao longos dos tempos.

A extensão de estilos que emergiram, especialmente a partir do século XVIII, obrigou-me a dividir o artigo em 3 partes: da Idade Média ao Neoclassicismo do século XVIII; O Romantismo do século XIX e Do Impressionismo à atualidade.

Venha comigo iniciar esta viagem fascinante!

O Fascínio pelas Flores

As flores têm o poder de atrair e impressionar o Homem desde tempos imemoriais. Ao longo de milénios, as flores têm sido celebradas pelos seus benefícios, simbolismo e sentimentos que evocam, estimulando a criatividade dos artistas.

Na arte, as flores têm desde sempre uma presença central pela sua beleza e pelo fascínio que causam, presença essa transversal a todas as culturas e épocas históricas. Estas fazem parte de uma linguagem visual versátil, que permite aos artistas comunicar os seus pensamentos e emoções, tendo um impacto emocional em quem frui a arte. Não só as flores são usadas na arte pela sua beleza estética, como podem ser usadas como símbolos, transmitindo um significado específico. São assim um veículo para a narrativa que o artista pretende comunicar, transmitindo um determinado tema.

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“A Rainha Maria Antonieta” de Elisabeth Vigée-Le Brun, 1783*

A representação das flores é sempre um reflexo do período histórico e do contexto cultural em que se inserem: por exemplo, nas obras que representam naturezas mortas, os objetos representados juntamente com as flores dão-nos informações acerca do quotidiano, dos valores e dos interesses do período em que foram pintadas.

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“Flowers in a Wooden Vessel” de Jan Brueghel O Velho, 1606*

As flores na pintura ocidental

Idade Média

As origens da representação de flores na pintura ocidental remonta ao período medieval, durante o qual eram usadas, por exemplo, para adornar manuscritos e tapeçarias.

Neste período as flores não eram apenas pintadas pelo aspeto estético, mas tinham também uma importância simbólica, havendo muitas vezes correspondência entre certas flores e virtudes cristãs.

Os motivos florais são assim proeminentes tanto em iluminuras como em tapeçarias. Não sendo obviamente pinturas, as tapeçarias e têxteis de larga escala tornaram-se extremamente populares nesta época, mais do que as pinturas. Eram usadas para adornar igrejas ou castelos. Muitas vezes nestas tapeçarias representava-se um grupo de pessoas sob um fundo embelezado com padrões florais repetidos. Estas tapeçarias eram conhecidas como “mille-fleur”, do francês “mil flores”.

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“Licorne en captivité” de autor desconhecido, painel da série La Chasse à la licorne 1499?*
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“The Triumph of Death, or the Three Fates” de autor desconhecido, origem holandesa 1510–1520 (imagem de https://collections.vam.ac.uk/item/O72702/)

Na pintura, as flores são comuns como adorno de cenas da nobreza ou cenas religiosas. Como excelente exemplo destas iluminuras temos o manuscrito do século XV ‘Très Riches Heures du Duc de Berry’. As iluminuras de estilo gótico, pintadas pelos irmãos Limbourg, são consideradas das mais expressivas desta época.

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“Senhoras da corte do Duque Jean I de Berry, adornadas com coroas de flores” do livro “Très Riches Heures du Duc de Berry” de Limbourg, 1411-1416 (imagem de @morgan_the_art_historian).

Renascimento, Arte Barroca e Rococó

O Período do Renascimento – no século XV e início do século XVI – foi um marco transformativo na arte europeia, com as flores a terem um papel cada vez mais central. Os detalhes florais eram meticulosamente inseridos pelos artistas nas suas pinturas.

Um exemplo icónico é a obra de Botticelli, “A Primavera” que ilustra figuras mitológicas num cenário repleto de flores.

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“Primavera” de Sandro Botticelli, 1482-1485*

Neste período muitos artistas renascentistas especializaram-se em naturezas mortas, que muitas vezes incluíam arranjos florais elaborados. No século XV e XVI, com o aumento dos contactos com culturas fora de Europa, as flores exóticas começam a surgir nestas pinturas. Este plano artístico vai assim lado a lado com os estudos botânicos que se começam a compilar nestes séculos.

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“Bouquet in a Clay Vase” de Jan Brueghel the Elder, 1609 (National Gallery, Londres)

Enquanto no Renascimento os temas artísticos se focam na harmonia, equilíbrio e moderação, na passagem para o estilo Barroco (nos séculos XVI e XVII) as pinturas surgem repletas de exuberância, contrastes mais fortes e realismo.

Os quadros do estilo Barroco são assim repletos de magníficos exemplos de pinturas com arranjos florais exuberantes.

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“A Vase with Flowers” de Jacob Vosmaer, ca. 1613*
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“Roses in a vase” de Juan de Arellano, 1614-1676*
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“Still Life with flowers and fruits” de Biggi dei Fiori, ca. 1650*

O Rococó nasceu em Paris no início do século XVII, como uma reação da aristocracia francesa contra o Barroco sumptuoso, palaciano e solene praticado no período de Luís XIV. Caracterizou-se acima de tudo pelo seu carácter hedonista e aristocrático, manifestado em delicadeza, elegância, sensualidade e graça, e na preferência por temas leves e sentimentais, onde a linha curva, as cores claras e a assimetria tinham um papel fundamental na composição da obra.

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“Les Hasards Heureux de l'Escarpolette” de Jean-Honoré Fragonard, 1766*

Começou a ser criticada a partir de meados do século XVIII, com a ascensão dos ideais Iluministas, neoclássicos e burgueses, sobrevivendo até a Revolução Francesa, quando então caiu em descrédito completo, acusada de superficial, frívola, imoral e puramente decorativa.

Neoclassicismo do século XVIII

A corrente artística do Neoclassicismo, surgida entre meados do século XVIII e meados do século XIX, exerce uma influência decisiva sobre toda a pintura ocidental daquele período, reagindo contra a pompa e a densa ornamentação do Barroco e a frivolidade do Rococó.

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“An eloquent silence” de Lawrence Alma-Tadema, 1890 *

A sua origem está ligada a importantes mudanças sociais, culturais e políticas que decorreram nesse período na Europa, nomeadamente a Revolução Francesa. Neste período começa a transição para uma cultura mais secularizada e mais científica, em estreita relação com a surgimento do Iluminismo como corrente ideológica.

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“Julie Lebrun as Flora” de Élisabeth Vigée Le Brun, ca.1799*
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“The Arcadian Poet” de William Bell Scott, 1866 (French Gallery Winter n. 192)

A sua inspiração na cultura clássica da Antiguidade é evidente, especialmente nos temas escolhidos nas pinturas. É evidente o desejo de retorno ao passado, pela imitação dos modelos da Grécia e Roma Antigas, presente não só nos temas, mas também nas personagens escolhidas e na composição do design cénico.

Tecnicamente é um estilo academicista, ou seja, a pintura está sujeita aos modelos e às regras ensinadas nas Escolas ou Academias de Belas-Artes.

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“Violets, sweet violets” de John William Godward, 1906*

A arte era entendida como imitação da Natureza, num estilo sóbrio e linear, virando-se para a simplicidade serena da Natureza.

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“Summer flowers” de John William Godward, 1903 *

O estilo Neoclássico perdura no século XIX e vai conviver com o estilo do Romantismo, que se encontra no lado oposto do espectro no que se refere a temas, técnicas e mensagem, como irá descobrir no próximo artigo, dedicado exclusivamente à pintura do período do Romantismo! Não perca!

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