Século XIX – as correntes opostas do Romantismo e do Realismo
Romantismo – Misticismo e Emoção
O século XIX é prolixo em correntes artísticas que se diferem muito entre si, estando por vezes assentes em ideais totalmente opostos, como é o caso das correntes descritas neste artigo: o Romantismo e o Realismo.
O estilo neoclássico do século XVIII e XIX (abordado no artigo anterior) vai conviver com o estilo do Romantismo, que se encontra no lado oposto do espectro no que se refere a temas, técnicas e mensagem.
O Romantismo foi um movimento artístico e intelectual que atingiu o seu auge entre 1800 e 1850, caracterizado pela ênfase na emoção e individualismo, bem como na glorificação do Passado e da Natureza.
Os artistas românticos partilhavam assim, para além da idealização do Passado como uma época mais nobre (preferindo o período medieval ao clássico) o fascínio pelo misticismo e a fantasia. São famosas as pinturas com fadas, figuras mitológicas e cenas medievais como temática central.
Muito variada nas suas manifestações, esta corrente sustentava-se filosoficamente em três pilares: o individualismo, o subjetivismo e a intensidade. Opondo-se à ordem e à rigidez intelectual clássica, os artistas românticos davam primazia à imaginação e à expressão individual, alcançando assim o sublime através da arte.
Uma ramificação do Romantismo que usa as flores como elemento fundamental, foi a corrente artística dos pré-rafaelistas. A Irmandade Pré-Rafaelita designa um grupo de pintores ingleses constituído em 1848, que tinham como objetivo fundamental a recuperação da pureza que caracterizava as pinturas medievais, anteriores ao pintor renascentista Rafael e, logo, anteriores à tradição da arte académica. Pretendiam devolver à arte a sua pureza e honestidade anteriores, que consideravam existir na arte medieval do final do Gótico e do início do Renascimento. Estes desenvolveram um conceito estético relacionado com a elevação da emoção e da vividez de cores. Os temas mitológicos, cenas medievais e cenas clássicas são temas recorrentes. As flores são um dos símbolos mais importantes usados por estes pintores, embebidas de significância poética, despertando a imaginação das pessoas até aos dias de hoje.
Realismo – Sobriedade e Razão
Praticamente paralela a esta corrente do Romantismo, no início do século XIX surge em França a corrente do Realismo. Ligada de forma estreita à progressiva industrialização e aos avanços científicos trazidos pela Revolução Industrial, este estilo de pintura deixa de lado as visões subjetivas e emotivas da realidade. Entre 1850 e 1890 o Realismo espalhou-se pelo Europa, rompendo com o tradicionalismo do Romantismo e do Neoclassicismo.
O Realismo procurou não só incorporar o progresso científico da época na pintura, como trouxe também à sua arte reflexões acerca da grande desigualdade social. Mas acima de tudo esta corrente foi uma forma de superar as tradições românticas e clássicas.
A pintura do Realismo começou por manifestar-se no tratamento da paisagem, que se despiu da exaltação e personificação românticas do Romantismo, para se focar simplesmente na reprodução desapaixonada e neutra do que se oferece à vista do pintor. Passou depois aos temas do quotidiano, que tratou de forma simples e crua, sem nada acrescentar ou retirar à realidade, algo totalmente inovador na pintura do século XIX.
O grande objetivo dos pintores realistas era retratar a realidade do povo de maneira concreta e não uma forma ideal como nos movimentos anteriores. Entre os temas mais desejados estão à paisagem e os retratos. As cores eram sóbrias e a pincelada era livre, o que resultava numa representação nítida da realidade que os cercava.
O Realismo reage assim à estética mística do Romantismo e pratica a arte assente na crítica à sociedade industrial. Nas últimas décadas do século XIX, a nova corrente do Impressionismo desloca-se da temática social e abala o mundo da arte, alterando para sempre as formas de produção, a crítica e o conceito de beleza. Esta corrente será abordada no próximo artigo. Não perca!