Quando comecei a prensar flores para a “sweet violet” senti-me inspirada pela versatilidade que as flores prensadas oferecem. É possível criar trabalhos de inspiração mais moderna e minimalista – nomeadamente fazendo uso das transparências (que adoro!) – mas também outros que nos remetem para outras épocas históricas, com uma vertente vintage.
Para a criação desta nova coleção tive necessidade de ter uma abordagem mais concreta. Se a minha coleção inicial se baseou muito no trabalho de decoração que fiz para o meu casamento (tema que abordarei noutro artigo) para esta colecção decidi abordar a concepção da mesma como um reflexo de um conjunto de ideias e de sentimentos e com um conceito visual mais concreto.
- Como criar uma coleção
INSPIRAÇÃO: Na concepção de uma colecção a inspiração é a base fundamental, o ponto de partida. Nesta fase recorremos a referências através de uma pesquisa aprofundada, que podem ser outros artistas, obras históricas ou a própria Natureza. No início da concepção de uma colecção não só a criatividade entra em acção, mas também o desejo de evolução e expansão de horizontes – nada como nos desafiarmos a nós próprios para levarmos os limites da nossa imaginação mais além! A vontade de trabalhar com novos materiais, por exemplo, origina um leque vasto de possíveis novas criações.
PLANEAMENTO: Nesta fase temos de fazer um levantamento dos materiais a usar, a sua disponibilidade e o custo envolvido, bem como a quantidade necessária, de forma a optimizarmos o trabalho e a reunirmos informação para mais tarde colocarmos o produto no mercado. Especialmente se estamos a usar materiais novos, há que os testar, de forma a fazer com que na fase de produção se diminua o desperdício, ou seja, os artigos que saem mal (que acreditem, acontece!).
PRODUÇÃO: A minha fase favorita, quando metemos mãos à obra! É muito importante ter um espaço de trabalho organizado, ou pelo menos é isso que digo recorrentemente a mim mesma, já que quando estou a criar tenho tendência a fazer uma grande confusão! Mas no final do dia há que limpar, reorganizar, para no dia seguinte estarmos prontas para mais um dia a criar! Há que produzir tendo em vista uma previsão do que se vai vender, para não pecar nem por excesso, nem por defeito.
2. A inspiração para a colecção vintage: A prensagem de flores no século XIX
Para mim, as flores e plantas prensadas coladas sobre papel remetem-me instantaneamente para a época vitoriana do século XIX e foi precisamente essa a inspiração para a colecção vintage! Esta colecção procura evocar então este sentimento nostálgico aliado à sensibilidade e delicadeza das composições e o retorno à beleza e simplicidade da Natureza, um dos ideais por excelência da época do Romantismo.
Creio que aqui se vai notar a minha profissão como arqueóloga, já que tudo o que é História é uma fonte de constante admiração e inspiração para mim! O Passado está repleto de exemplos de extrema beleza e delicadeza no que a prensagem de flores diz respeito!
Apesar de ter tido a sua origem no século XVI no Japão – onde esta arte tem o nome de “oshibana” – na Europa é durante o século XIX que a prensagem de flores atingiu o seu apogeu. Não só como uma forma de preservar flora pelos cientistas – que desde o século XVI haviam começado a catalogar de forma científica plantas e flores nativas e exóticas (nos chamados herbários) – mas começa também a ser considerado um passatempo exemplar para as senhoras da classe média e alta sociedade. Estas juntavam-se para colher flores nos seus jardins e em passeios pelo campo e prensavam-nas em livros. Apesar de o significado atribuído às flores vir desde a Antiguidade, foi nesta época que estes significados atingiram o seu expoente máximo, servindo as flores como forma de comunicação, numa época em que esta era maioritariamente indireta e cheia de simbolismo.
Estas flores eram então preservadas em diários, artigos de papelaria e mesmo emoldurados para decoração interior. Como já foi referido, eram usadas também para estudos botânicos, já que o processo de prensagem permite a sua preservação e estudo a longo termo. O próprio Charles Darwin colheu espécimes de herbário na viagem a bordo do Beagle, que foram enviadas à Universidade de Cambridge, como presente para seu amigo e mentor, o professor John Henslow. Os herbários eram então a forma de catalogar flora de maneira mais formal, mas a prensagem de flores floresceu também de forma mais artística, poética e romântica, de forma a preservar momentos especiais.
Assim, na época vitoriana a prensagem de flores começa a ser encarada com uma vertente artística e romântica. Queriam incluir a Natureza no dia-a-dia, tornando a prensagem de flores numa forma de arte, servindo como lembranças de momentos passados. Esta prática era um reflexo do fascínio pela Natureza desta época e o ideal romântico da captura da beleza efémera.
A famosa poetisa americana Emily Dickinson compilou um herbário espetacular com mais de 400 flores, num livro que complementa a sensibilidade da sua poesia. Na imagem, a página dedicada às variedades de violetas!
A rainha Vitória prensou flores praticamente a sua vida toda, de forma a relembrar momentos especiais, como um passeio com o seu marido ou o aniversário do seu jubileu (na imagem vemos flores de um bouquet que lhe foi oferecido no seu jubileu de diamante, celebrando 60 anos de reinado).
- Da inspiração à criação da colecção
Tendo então a estética e materiais em mente, falta uma das componentes mais especiais desta coleção: as molduras. Para esta colecção usei exclusivamente molduras antigas, por isso os artigos são verdadeiramente vintage! Muitas delas estão na minha família há muitos anos, tendo-as herdado dos meus avós e mesmo bisavós – que tenho a certeza teriam apoiado de todo o coração este meu novo projeto! Algumas estavam a precisar de restauro, tendo sido recuperadas com todo o carinho.
Esta coleção é feita com colagem dos elementos florais e vegetais em papel de elevada gramagem e alta qualidade, com cores que realçam a beleza dos elementos florais e vegetais. Todas as flores e plantas foram colhidas por mim no meu jardim ou no campo e prensadas usando métodos tradicionais durante cerca de 5 semanas.
Foram escolhidas flores que nos remetem para este carácter nostálgico, delicado e romântico, como as flores de cenoura-brava (que têm um nome muito mais romântico em inglês – “Queen Anne’s Lace”!), brincos-de-princesa (uma das minhas flores favoritas!), fetos recolhidos na Serra de Sintra e muitos outros! O preto, elementos florais contrastantes e molduras douradas são predominantes e servem de fio condutor desta coleção.
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